por Pâmela Carvalho (colunista convidada)
A meu ver, o fazer de historiadores, pesquisadores, educadores e artistas tem de ser questionador. Devemos estranhar e provocar estranhamento naqueles que convivem conosco. As normas, as regras, as estruturas tem de ser estranhadas, questionadas e postas em xeque quando representam opressões e desigualdades.
Temos um calendário com datas oficiais, que varia um pouco de país e região. Uma data importantíssima é o dia 8 de março, em que se reflete sobre o Dia Internacional da Mulher. A data marca a luta pelos direitos de mulheres, sendo um momento crucial para movimentos feministas que lutam pela igualdade de gênero. Porém, a data — que é importantíssima — nos traz uma importante reflexão: de que mulher estamos falando no 8 de março? Quais eram as mulheres que reivindicavam melhores condições de trabalho e vida na Rússia de 1917 — um dos contextos do qual eclode a razão do que viria a ser o 8 de março. Onde estavam as mulheres negras e latinas neste momento?
Assim, é necessário estranhar. É preciso questionar a categoria “mulher”, pensando que, de forma geral, mulheres negras, mulheres latinas, mulheres trans não são acolhidas dentro deste ideário universalizante. Enquanto mulheres brancas protagonizavam lutas para trabalharem em melhores condições, mulheres negras lutavam para serem consideradas seres humanos. Nossos passos vêm de longe, porém, infelizmente não somos colocadas em pé de igualdade nesta estrada.
Nesse sentido de estranhamento e disputa de narrativa, outra data se faz importante nos calendários que se guiam pelos direitos humanos e pautas sociais. O dia 25 de julho. Conhecido como Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, a data pensa uma multiplicidade de formas de ser mulher, que tem em comum as identidades negras e do considerado “sul global”.
A data surge na República Dominicana a partir do Primeiro Encontro de Mulheres Afro-latino Americanas e Afro-caribenhas, em 1992. No Brasil, a Lei nº 12.987/2014 foi sancionada por Dilma Rousseff e ficou conhecido também como o Dia de Tereza de Benguela, liderança quilombola e articuladora territorial e política.
Firmar os pés nesta data é essencial. Fazer ecoar a importância desse dia, coloca a existência de mulheres negras no centro do debate, escorrendo nossas pautas pelo ano inteiro. Existimos o ano inteiro. Lutamos o ano inteiro. É necessário que estranhemos nossas ausências, nossos silêncios e silenciamentos e que se faça ouvir nossa voz.
Na imagem, ilustração de Jarrid Arraes, autora do livro “Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis” do qual Tereza de Benguela é uma das personas.
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