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Estive no cinema Cauim

Atualizado: 14 de set. de 2020

de Caetano Romão




uma ou duas vezes. Rapazes que nem eu

cheiravam cola e chutavam latinhas de soda

com jeito de te espero na saída. Ribeirão e seu rosto de canavial

cortado. Bastava isso pra que seus meninos trouxessem

a bermuda marcando as coxas. Mascavam chicletes de canela,

punham apelido um no outro, se passavam a mão. Cada baforada

dando zoeira na vista e formigando um volume maior

nos pentelhos. Acho que ali, o sol sempre bateu

maior do que a nuca. Por isso, esses mesmos rapazes

se chupavam atrás das caçambas da praça 7 de Setembro,

por isso esporravam no muro de trás da Beneficência Portuguesa,

por isso conheciam cada paralela da Getúlio Vargas como se conhece

a própria saliva. Com eles aprendi a segurar uma cidade

como se deve: pelo gargalo. Estive todas as tardes no Cinema Cauim,

tinham gosto de asfalto na boca.





CAETANO SOUSA ROMAO nasceu em Ribeirão Preto (SP) em 1997. Mudou-se para São Paulo em 2015, cidade que vive desde então. Formou-se em 2018 pela Escola de Música do Estado de São Paulo em Música Popular (Acordeão) e está concluindo sua graduação em Letras pela Universidade de São Paulo. Escreve poesia e se interessa pelas relações entre texto, musicalidades e perfomance. Teve poemas publicados em revistas digitais e lançou sua primeira plaquete Canil em 2019.

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