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Foto do escritora palavra solta

Dois poemas inéditos de Fernanda Morse


Moldes feitos de gesso enxertado no espaço deixado pelos corpos decompostos sob as cinzas de Pompeia.




À NOTRE-DAME UM EPITÁFIO


naquele dia decidi andar. o cara da ótica disse seus óculos estão abismados. fiz o caminho inverso ao de marília, de quando ela não encontrou a gioconda no café ao pé da sacré-coeur. fui comprar um livro chamado nox, um epitáfio. antes eu vi o lobo empalhado na passagem. comprei catálogos de tapeçaria russa e um caleidoscópio de dinossauro. e foi aí que vi a igreja pegar fogo. finalmente! todo o dia esperando um troço acontecer. a fumaça era cinza verde amarela e preenchia todo o céu. velhinhas choravam na ponte. parecia prenúncio de desgraça. eu vi tudo eu vi tudo. e uma fuligem me escolheu. dançou sob meus olhos. derreteu o casaco de tactel. naquele momento a frança acabou. esperei a flecha cair e fui embora. aquele barulho me acordou.



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ENXERTO


ei, aqui tudo cola eu quero acreditar em você a primeira vez que te vi eu vi o sena – e era largo vi pompeia e as letras nos muros as cores antes de cristo os volumes dos corpos destruídos todo o corpo que também é vão impreenchível irreconhecível, inexprimível porque esse espaço sempre vai existir quando te vi foi o pecado a maldição notre-dame em chamas em chamas, a vida dizendo: ele está pra chegar atenção a primeira vez que te vi já havia visto mas a primeira vez que te vi foi aquela em que conheci a brasa pelos entre suas pernas, meu amor, tive medo assim como me assusta o coliseu e seus remendos assim como me assusta o que não me deixa esquecer tudo o que não me deixa esquecer a primeira vez que te vi te vi velho pai dos meus filhos, avô dos meus netos por isso eu ri não banquei o deslumbre o desespero, o desejo





FERNANDA MORSE cursa atualmente o mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada da USP, estudando as poetas Diane di Prima e Ana Cristina Cesar. Como poeta, tem textos publicados em diversas revistas e lançou duas plaquetes: a primeira em 2014, pela Coleção Kraft, da editora Cozinha Experimental e a segunda em 2015, intitulada Impossíveis, pelo selo Cactus.

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