Não caia gentil nessa noite boa
(Dylan Thomas)
Não caia gentil nessa noite boa,
O velho arde e delira ao fim do dia;
Raiva, raiva contra essa luz que escoa.
Sabendo os sábios que no fim ecoa
O escuro sem raio do que foi dito,
Não caem gentis nessa noite boa.
Os bons choram o brilho sobre a onda,
Com a frágil ação que dança na baía,
Raiva, raiva contra essa luz que escoa.
Os loucos, que pegam o sol em voo
E tarde perdem o sol no caminho,
Não caem gentis nessa noite boa.
Os graves, de olho cego, quase morto,
Têm na cegueira um meteoro e gritam,
Raiva, raiva contra essa luz que escoa.
E tu, meu pai, da tua altura rota,
Xinga, me benze com choro, eu suplico.
Não caia gentil nessa noite boa.
Raiva, raiva contra essa luz que escoa.
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Do not go gentle into that good night
(Dylan Thomas)
Do not go gentle into that good night, Old age should burn and rave at close of day; Rage, rage against the dying of the light. Though wise men at their end know dark is right, Because their words had forked no lightning they Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright Their frail deeds might have danced in a green bay, Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight, And learn, too late, they grieved it on its way, Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight Blind eyes could blaze like meteors and be gay, Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height, Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray. Do not go gentle into that good night. Rage, rage against the dying of the light.
Vinte e Quatro Anos (Dylan Thomas)
Vinte-quatro anos avisam meus olhos das lágrimas.
(Cavar os mortos por medo de que se forcem contra a tumba.)
No arco da passagem natural, feito um alfaiate, me curvo
Costurando pra viagem uma capa
Sob a claridade de um sol carnívoro.
Vestido pro fim, sinto a pompa da libido,
Com as veias rubras cheias de prata,
Na direção derradeira dessa elementar cidade
Avanço enquanto o infinito existe.
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Twenty Four Years (Dylan Thomas)
Twenty-four years remind the tears of my eyes. (Bury the dead for fear that they walk to the grave in labour.) In the groin of the natural doorway I crouched like a tailor Sewing a shroud for a journey By the light of the meat-eating sun. Dressed to die, the sensual strut begun, With my red veins full of money, In the final direction of the elementary town I advance as long as forever is.
Poema em outubro (Dylan Thomas)
Era meu trigésimo ano até o paraíso
Meu ouvido desperto pelo porto e pela floresta vizinha
E pelo grude dos mariscos e pela garça
Bendita costa
A manhã convoca
Com água chorando e clamor de gaivota e gralha
E a batida dos barcos veleiros contra o muro de teias
Eu mesmo me finco
Àquele segundo
Nesta ainda sonolenta cidade então começo.
Meu nascimento começa nos pássaros
D’água e pássaros de árvores aladas voam meu nome
Sobre as fazendas e os cavalos brancos
E me ergui
Num outono chuvoso
E fui pra longe na enxurrada dos meus dias
Maré alta e a garça afundou quando caí na estrada
Sobre a fronteira
E os portões
Da vila cerrada no que a vila acordava.
Uma primavera de cotovias numa nuvem
Rolante e os arbustos da estrada transbordando com o canto
Dos pássaros pretos e o sol de outubro
Estival
Sobre os ombros da colina,
Aqui onde o bom ambiente e doces cantores de repente
Chegam pela manhã por onde eu perambulei e escutei
A chuva entortando
O sopro gelado do vento
Na floresta distante abaixo de mim.
Chuva pálida sobre o porto definhado
E sobre a igreja mareada do tamanho de um caracol
Com seus chifres pela nevoa e o castelo
Marrom-coruja
Mas todos os jardins
Da primavera e do verão floresciam em fábulas irreais
Além da fronteira e sob a nuvem cheia de cotovias.
Ali eu pude desfrutar
Meu aniversário
De cara, mas o tempo virou de repente.
Se afastou da jubilosa província
E caiu num novo ar e no céu azul modificado
Jorrou outra vez a maravilha do verão
Com maçãs
Peras e groselhas vermelhas
E eu vi na virada tão claramente as esquecidas
Manhãs da criança quando ela andava com sua mãe
Através das parábolas
Da luz solar
E das lendas das capelas verdes.
E os duplo-citados campos da infância
Cuja lágrima me queimou o rosto e o coração entrou no meu.
Estes eram a floresta o rio e o mar
Onde um garoto
No verão audível
Dos mortos sussurrou a verdade da sua alegria
Para as árvores e as pedras e o peixe na correnteza.
E o mistério
Cantou vivo
Imóvel na água e no canto dos pássaros.
E ali eu pude desfrutar meu aniversário
De cara, mas o tempo virou. E a verdadeira
Alegria da já morta criança cantou queimando
Sob o Sol.
Era o meu trigésimo
Ano até o paraíso, fiquei lá então na tarde de verão
Embora a vila deitasse frondosa com outubro em sangue.
Ah, possa a verdade do meu coração
Ainda ser cantada
Neste cume na virada de um ano.
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Poem in October (Dylan Thomas)
It was my thirtieth year to heaven
Woke to my hearing from harbour and neighbour wood
And the mussel pooled and the heron
Priested shore
The morning beckon
With water praying and call of seagull and rook
And the knock of sailing boats on the webbed wall
Myself to set foot
That second
In the still sleeping town and set forth.
My birthday began with the water-
Birds and the birds of the winged trees flying my name
Above the farms and the white horses
And I rose
In a rainy autumn
And walked abroad in shower of all my days
High tide and the heron dived when I took the road
Over the border
And the gates
Of the town closed as the town awoke.
A springful of larks in a rolling
Cloud and the roadside bushes brimming with whistling
Blackbirds and the sun of October
Summery
On the hill's shoulder,
Here were fond climates and sweet singers suddenly
Come in the morning where I wandered and listened
To the rain wringing
Wind blow cold
In the wood faraway under me.
Pale rain over the dwindling harbour
And over the sea wet church the size of a snail
With its horns through mist and the castle
Brown as owls
But all the gardens
Of spring and summer were blooming in the tall tales
Beyond the border and under the lark full cloud.
There could I marvel
My birthday
Away but the weather turned around.
It turned away from the blithe country
And down the other air and the blue altered sky
Streamed again a wonder of summer
With apples
Pears and red currants
And I saw in the turning so clearly a child's
Forgotten mornings when he walked with his mother
Through the parables
Of sunlight
And the legends of the green chapels
And the twice told fields of infancy
That his tears burned my cheeks and his heart moved in mine.
These were the woods the river and the sea
Where a boy
In the listening
Summertime of the dead whispered the truth of his joy
To the trees and the stones and the fish in the tide.
And the mystery
Sang alive
Still in the water and singing birds.
And there could I marvel my birthday
Away but the weather turned around. And the true
Joy of the long dead child sang burning
In the sun.
It was my thirtieth
Year to heaven stood there then in the summer noon
Though the town below lay leaved with October blood.
O may my heart's truth
Still be sung
On this high hill in a year's turning.
DYLAN THOMAS (1914-1953) foi um poeta galês. Em 1934, quando Thomas tinha vinte anos, mudou-se para Londres, ganhou o prêmio Poet's Corner. O livro era uma coleção de cadernos de poesia que Thomas tinha escrito anos antes, assim como muitos de seus livros mais populares. Durante este período de sucesso, Thomas começou também o hábito de abuso de álcool.
Ao contrário de seus contemporâneos, Thomas Stearns Eliot e W.H. Auden, Thomas não estava preocupado com a exibição de temas de questões sociais e intelectuais, e sua escrita, com o seu lirismo intenso e altamente carregada emoção, tem mais em comum com a tradição romântica. Seus poemas demonstravam influências célticas, bíblicas e do surrealismo inglês.
Aos 35 anos, em 1950, o poeta visitou os Estados Unidos pela primeira vez. Teatral, romântico e dado a porres homéricos, ele se tornou uma figura lendária nos EUA e isso ajudou sua divulgação para o mundo. Thomas tornou-se um ídolo para a geração dos poetas da chamada Geração Beat.
Morreu de alcoolismo, aos 39 anos. Consta que, no dia de sua morte, já com sérios problemas de saúde, ele teria ingerido 18 doses de uísque, tendo caído do Chelsea Hotel, em Nova Iorque e morrido no hospital alguns dias depois. Está enterrado numa campa na Saint Martin’s Church, Laugharne, Carmarthenshire, Gales. A sua esposa, que lhe sobreviveu 40 anos, está enterrada ao seu lado.
Leonardo Marona é poeta. Publicou os livros: Pequenas biografias não-autorizadas (poesia, 7Letras, 2009); l'amore no (poesia, 7Letras, 2011); Conversa com leões (contos, Oito e meio, 2012); Óleo das horas dormidas (poesia, Oficina Raquel, 2014); Cossacos Gentis (romance, Oito e meio, 2015); Herói de Atari (poesia, Garupa Edições 2017); Dr. Krauss (novela, Oito e meio, 2017); Uma baronesa às quatro da madrugada (poesia, Ed. Urutau, 2018). Atualmente vive no Rio de Janeiro e traduz Shakespeare (Ricardo III) e alguns poetas da Geração Beat.
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