sem querer me gabar mas
os meninos faziam fila pra mim
na escola
um a um eles vinham
pegavam minha mão com
força me olhavam
nos olhos
lados opostos da mesa
nos sentávamos
eu sorria pra eles
era um embate desigual
um passatempo prazeroso
os meninos tentavam
um a um eram
vencidos
na queda
de braço
fazia-se uma roda
no entorno
as meninas se interessavam
pouco mas paravam
pra me ver dobrar
meninos
*
há coisas que só um texto pode
por exemplo fazer essa memória correr
fazer essas imagens saírem
da minha cabeça, do tempo, do passado
se mostrarem pra você
por isso não acho que o texto
seja um corpo morto, o texto é produtivo
está tinindo, performando enquanto você
dorme ou morre
o texto está se deslocando
*
agora você conhece uma coisa que antes só eu
graças ao texto
talvez a gente se esbarre no bar
talvez a gente vá ao cinema
ou façamos uma aula você
e eu e você vai lembrar disso
talvez não chegue a mencionar
mas vai olhar pra mim
de fora do texto vai
querer disputar queda de braço
comigo me testar isso vai querer me testar
se a gente mantiver contato
até pode ter vontade de me
dobrar
depois vai esquecer eu também
vou esquecer esse texto
correndo
vencendo os meninos
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