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O tempo é rei e rainha

por Quitta Pinheiro






Mais uma coluna, mais um mês e mais vida pela frente, não é mesmo? Ou não é? O mês de Maio para mim sempre é um divisor de águas. Encerrando mais um ciclo da minha existência - de 26 anos completos - e sempre me trazendo várias surpresas, tornando novamente nítido dentro de mim a importância de seguir fazendo o que me comprometo a partir das minhas escolhas. Mas dessa vez, o fim deste ciclo me chamou a atenção para algo que estamos cada vez mais deixando de perceber: o tempo! Essa existência que constrói histórias, deixa marcas e registra mudanças, também demonstra em qual velocidade estamos evoluindo. Neste mês de maio que se encerra, há datas históricas que pautam politicamente a cidadania, os direitos e a falta da conscientização civil sobre a importância do combate à LGBTfobia. E ainda sim seguimos pelo quarto ano consecutivo como o país que mais mata a nossa população, com uma morte a cada 29 horas. Há 32 anos, no dia 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade do espectro de transtornos mentaisl. Em 2005, depois de uma campanha de um ano, a data foi escolhida como o Dia Internacional da Luta Contra a Homofobia, para conscientizar a população sobre a luta contra a discriminação e preconceitos a diferentes orientações sexuais e identidades de gênero. Com o passar dos anos, entendendo a importância de outras individualidades, passou a se chamar Dia Internacional da Luta Contra a LGBTfobia. Dois anos depois, no dia 15 de maio de 1992, nasceu o Movimento Nacional, organizado, de Travestis e Transexuais no Rio de Janeiro - que se tornou a primeira ONG de Travestis e Transexuais da América Latina - para atuar no resgate da cidadania plena, inclusão social e enfrentamento da violência cometida pela sociedade contra as pessoas trans e travestis, bem como a luta pela conscientização e prevenção do HIV/Aids, e o apoio às pessoas positivas. Uma data histórica para o segmento no Brasil, desconhecida pela maioria, mas de grande importância pois, pela primeira vez, essa população estava se organizando de forma política, o que causou visibilidade e repercussão na mídia. Em 2017 se instituiu nacionalmente a data como o Dia do Orgulho de Ser Travesti e Transexual. São mais de 30 anos pontuando a desumanização que existe com essa grande parcela da nossa sociedade. Em 2022, no próprio mês de maio, vimos matérias de jornais contando casos como “três homens presos por matar travesti na rua a tiros”, “trans é assassinada para não testemunhar em júri da morte do namorado”, “Travesti é morta e esquartejada por ex” e nós seguimos deixando de olhar o tempo, minimizando essas atrocidades que geram medo, retiram a nossa esperança de viver e destroem sonhos. Estamos exatamente nesse caos de sobrevivência, alcançando e ocupando posições na tentativa de reverter a atual situação. Temos hoje, pessoas trans pelo país com seus mandatos construindo políticas efetivas que resguardam e garantam o direito à vida. Entre 24 integrantes das Casas Legislativas, a maioria enfrenta uma rotina de perseguição e ameaças de morte, sofrendo violência política. A luta nunca para. Olhar para trás é necessário para rememorar e perceber o que continua no mesmo lugar, para planejar o que precisamos executar e assim quebrar os paradigmas. O tempo às vezes tarda, mas nunca falha. Chegaremos lá, rainhas e vivas!



Fontes:






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