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Foto do escritora palavra solta

Diane Di Prima na tradução de Fernanda Morse

Atualizado: 14 de set. de 2020








DIANE DI PRIMA nasceu em 6 de agosto de 1934, no Brooklyn, Nova Iorque, em uma família de ascendência italiana (seu avô materno, um anarquista ligado a figuras como Carlo Tresca e Emma Goldman, muito a influenciou). Frequentou a Hunter College High School, onde começou a escrever. Em 1951, foi para o Swarthmore College na Pensilvânia, abandonando-o dois anos depois para se juntar à comunidade boêmia de Manhattan's Greenwich Village, onde conheceu representantes da chamada Geração Beat além de outros poetas, como Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Denise Levertov, Frank O'Hara, John Ashbery etc.


Em 1958, di Prima publica seu primeiro livro de poesia, This Kind of Bird Flies Backwards (Totem Press). Três anos mais tarde, funda, em colaboração com James Waring, LeRoi Jones, Alan Marlowe e Fred Herko, o New York Poets Theatre. Também com LeRoi Jones (Amiri Baraka) coeditou, entre 1961 e 1971, o periódico mimeografado The Floating Bear. Diane di Prima chegou a ser presa em 1961 sob a acusação de publicar dois poemas obscenos em sua revista, sendo solta pouco tempo depois.


Em 1964, a poeta cria com Alan Marlowe, seu primeiro marido, a Poets Press, que publicou livros de David Henderson, Clive Matson, Herbert Huncke e Audre Lorde (com quem di Prima estudou no Ensino Médio). Em 1968, muda-se para a Califórnia, onde, além de se aproximar do grupo de artistas e ativistas The Diggers, leciona no New College of California, no California College of Arts and Crafts, no San Francisco Art Institute e no California Institute of Integral Studies. Em 1969, escreve Memórias de uma Beatnik, o famoso relato erótico sobre as suas vivências no universo beat da Nova York dos anos 50 (até agora, trata-se de seu único livro traduzido no Brasil).


Entre as principais obras de di Prima, estão: This Kind of Bird Flies Backwards (1958), Dinners and nightmares (1961), Revolutionary Letters (1968), Memoirs of a beatknik (1969), Loba (1973), Pieces of a song (1990) e Recollections of my life as a woman (2001). A poeta recebeu duas bolsas do National Endowment for the Arts, e seu trabalho foi traduzido para mais de vinte idiomas. Em 2009, foi nomeada poeta laureada de São Francisco.



O BANQUETE Seu rosto é escarpado como as montanhas de Marin County Devastados seus olhos onde meteoritos caíram pelo seu rosto E sua pele lisa como as ondas Palpita contra a palma da minha mão Pouco se move o terror te toma Eu chupo seu terror nas minhas entranhas Eu chupo sua paixão Bebo suas lágrimas


Nos lugares secos encontro a sua raiva dura como pedra. Cintila como aço Não consigo atacá-la.


Alcanço seu fundo. E puxo. Sua raiva tão grande quanto seu punho Olhamos juntos para ela, parada ali minha coxa Contra a sua barriga. Eu quero cantar “Oh mulher esguia como um cisne por sua causa não morrerei.”


E a pedra lisa das suas entranhas brilha entre nós no travesseiro.


THE BANQUET

Your face is craggy as the Marin County hills Ravaged yr eyes where meteorites fell trhu yr face And yr skin smooth as waves Flutters against my palm Moves small terror fills you I suck yr terror into my gut I suck yr passion I drink yr tears


In the dry places I find yr anger hard as stone. It shines like steel I cannot move against it.


I reach deep into you. I pull it out. Your anger as large as your fist We look at it together, lying there my thigh Is against yr stomach. I want to sing “O woman shapely as a swan on yr account I shall not die”


And the smooth stone from yr gut Gleams on the pillow between us.




POEMA DE ANIVERSÁRIO PRO MEU AVÔ NO DIA DA MENTIRA


Hoje é o seu aniversário e eu tentei escrever essas coisas antes, mas agora em meio à loucura crescente, eu quero agradecê-lo por me dizer o que esperar por não poupar as palavras, lá naquela sala encerada do Bronx agradecê-lo por chorar abertamente durante as inúmeras óperas italianas desoladoras obrigada por puxar meu cabelo quando eu puxava as folhas das árvores assim eu saberia o que elas sentiam, nós estamos envolvidos nisso agora, revolução, até os joelhos e a maré está subindo, eu abraço estranhos na rua, repletos de amor, o deles e o meu, o amor que você nos disse que deveria chegar ou morreríamos, disse a todos eles naquele parque no Bronx, eu escutando no anoitecer primaveril do Bronx, respirando estrelas, tão glorioso para mim o seu cabelo branco, sua altura seus ferozes olhos azuis, raros entre os italianos, eu ficava de longe olhando pra você, meu vô as pessoas ouviam, eu fico de longe ouvindo enquanto derramo a sopa jovens com luz em seus rostos na minha mesa, falando de amor, falando de revolução que é amor dito ao contrário, como você amaria todos nós, trovejaria a sua sabedoria anarquista sobre nós, trovejaria Dante, e Giordano Bruno, homens disciplinados inclinados aos seus fins, então quero que saiba que fazemos isso por você e pela sua gangue, Carlo Tresca, por Sacco e Vanzetti, sem saber ou pensar sobre isso, assim como fazemos por Aubrey Beardsley Oscar Wilde (todas as luzes da rua devem ser roxas), fazemos por Trotsky e Shelley e pelo grande/tolo Kropotkin pelos Grevistas de Eisenstein, pelo tédio de Jean Cocteau, fazemos isso pelas estrelas que pairam sobre o Bronx para que elas possam olhar para a terra sem sentir vergonha.


APRIL FOOL BIRTHDAY POEM FOR GRANDPA

Today is your birthday and I have tried writing these things before, but now in the gathering madness, I want to thank you for telling me what to expect for pulling no punches, back there in that scrubbed Bronx parlor thank you for honestly weeping in time to innumerable heartbreaking italian operas for pulling my hair when I pulled the leaves off the trees so I’d know how it feels, we are involved in it now, revolution, up to our knees and the tide is rising, I embrace strangers on the street, filled with their love and mine, the love you told us had to come or we die, told them all in that Bronx park, me listening in spring Bronx dusk, breathing stars, so glorious to me your white hair, your height your fierce blue eyes, rare among italians, I stood a ways off looking up at you, my grandpa people listened to, I stand a ways off listening as I pour out soup young men with light in their faces at my table, talking love, talking revolution which is love, spelled backwards, how you would love us all, would thunder your anarchist wisdom at us, would thunder Dante, and Giordano Bruno, orderly men bent to your ends, well I want you to know we do it for you, and your ilk, for Carlo Tresca, for Sacco and Vanzetti, without knowing it, or thinking about it, as we do it for Aubrey Beardsley Oscar Wilde (all street lights shall be purple), do it for Trotsky and Shelley and big/dumb Kropotkin Eisenstein’s Strike people, Jean Cocteau’s ennui, we do it for the stars over the Bronx that they may look on earth and not be ashamed.



Fernanda Morse nasceu em Niterói e hoje vive em São Paulo. Está prestes a concluir o bacharelado em Letras Português/Inglês na USP. Pesquisou a poesia de Ana Cristina Cesar, passou um tempo na Université Paris-Sorbonne - Paris IV pesquisando e acompanhando cursos de literatura e, como trabalho final de graduação, traduziu uma antologia de poemas da Diane Di Prima que pretende publicar em breve. Como poeta, além de contribuir para diversas revistas, lançou duas plaquetes: a primeira em 2014, pela Coleção Kraft, da editora Cozinha Experimental, e a segunda em 2015, intitulada “impossíveis”, pelo selo Cactus.

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