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Dezembro - Democracia em rede

por Gustavo Gomes






A democracia não é um conceito apático. Ela é um processo. Precisa ser continuamente desenvolvida e alimentada. É uma lareira que precisa de oxigênio para permanecer acessa, uma caixa de som que precisa de eletricidade para permanecer ligada. A recuperação democrática que veio com a vitória de Lula nas eleições deste ano precisa ser entendida como um passo para uma reconstrução longa e gradual da democracia.


Os próximos dias serão marcados pelas escolhas dos ministros do governo Lula e pela resistência aos flertes golpistas. Por um lado, Lula e sua equipe de governo terá sua difícil missão de convocar ministros que deem conta das principais demandas brasileiras e dialogar com a maior parcela possível da sociedade e da classe política. Reduzir o desmatamento, melhorar a economia e garantir o bolsa família fora do teto de gastos com a PEC de transição são uma das missões emergenciais. No entanto, existem milhões de alunos com ensino prejudicado e resquícios da pandemia a serem tratados. Politicamente, um congresso onde o PL se torna o partido com maior número de deputados e uma necessidade de diálogo com o centrão tornam o desafio, por parte do executivo, de não perder completamente o controle do orçamento, inglório e que necessitará de escolhas difíceis.


Por outro lado, incomodam o número, cada vez mais reduzido, mas ainda existente, de pessoas em frente aos quartéis. Mostra-se uma massa golpista que, vivenciando uma realidade paralela das redes bolsonaristas, alimenta o flerte com o golpe, sendo incendiada ainda por generais e políticos bolsonaristas. O golpismo, tal qual a democracia, também precisa ser alimentado e este trabalho continua bem feito nos grupos de Whats’app bolsonaristas. A realidade que o pós eleições nos deu foi a certeza que o bolsonarismo sobrevive à derrota do ex-presidente. A extrema-direita ocupou o espaço da direita no Brasil e uma ideologia olavista, bolsonarista, com inspirações que chegam ao neonazismo se tornam realidade a ser combatida. O golpismo não pode, nem deve ser tratado sem a seriedade de quem precisa manter a democracia no país.


Deste modo, fortalecer a democracia, em rede, é uma missão de todo democrata que vive no Brasil pós 2023. Todos os esforços precisam ser feitos para corrigir o passado sangrento e tortuoso que tentou com todas as forças voltar ao Brasil nos últimos anos. Mas a mesma força precisa ser tomada para desenvolver ferramentas, estratégias e movimentos para a recuperação da democracia. Será necessário entender a pluralidade de pensamentos em opiniões, sem que isso seja um fator de cisão social e sim de fortalecimento das redes que protegem a democracia. Por isso, deixo cinco missões para fortalecer a democracia do país:


1 - Julgar o bolsonarismo e o militarismo: semelhante ao trabalho realizado pela Argentina após a ditadura militar e diferente do que houve no Brasil, os crimes contra a saúde pública, contra a democracia e contra o processo eleitoral, cometidos por bolsonaro e boa parte dos militares que entraram no governo durante o último governo precisam ser denunciados e responsabilizados.


2 - Estruturar mecanismos de participação social: reconstruir o Brasil precisa ser tarefa conjunta e a participação social é grande força, inclusive, para restabelecer ao executivo o controle do orçamento público. As redes sociais precisam ser utilizadas para aproximar a população do governo de forma contínua e propositiva.


3 - Recuperar a educação e a produção de conhecimento: ampliar o acesso à universidade, reestruturando o orçamento e investindo pesadamente para o fortalecimento do setor de produção de conhecimento é urgente. Mas, além disso, o ensino médio e básico precisa ser atualizado, desenvolvido e fortalecido para promover uma verdadeira revolução educacional e cidadã no Brasil.


4 - Fortalecer a cidadania e a democracia enquanto ideologia: impulsionar o entendimento do que representa a democracia e transformar a cidadania, com a entendimento dos direitos, instituições democráticas e formas de influência social são missões importantes para combater o golpismo e seus representantes. E isto precisa ser feito, inclusive, em ambiente digital, tirando esse espaço do domínio da extrema-direita.


5 - Democratizar o acesso e a representação social: além de fortalecer as instituições democráticas, o novo Brasil precisa ser reconstruído com intensa participação de mãos negras, femininas, nordestinas e periféricas. O racismo e a misoginia dos últimos anos precisam ser enfrentados pela participação definitiva desses grupos minorizados nos espaços de decisão.


Fortalecer a democracia é missão de todos.


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