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Foto do escritora palavra solta

A locomotiva Pedro Almodóvar

por Maria Cabianca


Adorado pela crítica e por um público fiel desde o reconhecimento internacional de Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), o espanhol Pedro Almodóvar faz 72 anos enquanto escrevo este texto, a 25 de setembro de 2021. Para além das deliciosas paletas de cores de seus filmes, o cineasta é uma pedra rara no cinema. Vivo e prestigiado, produz ativamente fora do círculo hollywoodiano e logrou o panteão dos gigantes num meio extremamente restrito e sem educação formal na área. Tampouco proveio dos círculos intelectuais.



Pedro Almodóvar durante seus anos de seminário católico


Autodidata, mudou-se para Madri aos 16 anos, recém-saído de um seminário para garotos católicos. Conta-se que àquela época ele já aspirava a ser um diretor de cinema. Conseguiu um emprego na Telefónica e comprou sua primeira câmera com o salário dessa época. Suas primeiras produções eram registros dos amigos, todos eles pertencentes ao movimento cultural que ficou conhecido como Movida Madrileña. Cinquenta anos depois, fez-se roteirista e produtor. Com sua produtora El Deseo, também financia produções de cineastas latino-americanos como as da argentina Lucrecia Martel.


De forma geral, Almodóvar tem se mostrado um dos realizadores mais prolíficos durante a pandemia. Se nos anos antes da grande crise sanitária suas produções estavam mais espaçadas, ele agora parece focado em produzir adaptações.

Ano passado, lançou A voz humana no Festival de Veneza, um curta de 30 minutos estrelado pela icônica Tilda Swinton - adaptado de peça homônima de Jean Cocteau e já está produzindo uma outra adaptação, esta da obra Manual da faxineira, de Lucia Berlin.




Pedro Almodóvar e Tilda Swinton no set de A voz humana (2020)



É possível entrever muito da história pessoal dele em seus filmes, em especial em seu último longa disponível, Dor e Glória (2019). Protagonizado por Antonio Banderas, o filme é um exercício narrativo de colocar a própria vida em perspectiva em busca de alguma enunciação possível, enquanto lida-se com a sombra do passado e uma experiência dilacerante de conviver com a dor, seja ela de origem física ou anímica.


As vozes do personagem e do diretor confundem-se num longa de falas memoráveis. É agridoce acompanhar o percurso que o protagonista faz de voltar o olhar à primeira infância como quem busca um abrigo possível, só para lembrar que nem as crianças são felizes. Se algo não mudou entre aquele menino e o homem envelhecido, é o brilho no olhar diante de um mundo cujas engrenagens ainda lhe escapam - mas não deixam de maravilhar, ainda que na chave do assombro.





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